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Foto: Reprodução |
Programa
investirá R$ 250 milhões em projetos culturais de todo o País; inscrições já
estão abertas e vão até 8 de abril.
Projetos
culturais das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste terão pontuação
extra na Seleção Petrobras Cultural 2024. O edital do programa
prevê cota mínima de 15% dos recursos para cada região do País, com
prioridade para as regiões com menor representação histórica em projetos
aprovados. Ao todo, serão R$ 250 milhões em iniciativas de todo o
País, contemplando ações que vão de festivais e festas populares a games e
exposições no metaverso.
Na
cerimônia de lançamento do edital, que contou com a presença do
presidente Luís Inácio Lula da Silva e da ministra da Cultura Margareth
Menezes, entre outras lideranças políticas, o presidente da Petrobras, Jean
Paul Prates ressaltou que o edital tem como intuito privilegiar “sem
vergonha nenhuma de dizer isso, as regiões que normalmente não conseguem
apresentar projeto ou não conseguem vencer”.
Cada
estado terá pelo menos dois projetos contemplados, o que garante a participação
efetiva de todos os estados nordestinos. Projetos que incluam mais de uma
região também terão pontuação maior na seleção.
O
retorno do programa Petrobras Cultural também traz, pela primeira
vez, foco em diversidade e inclusão, com reserva de 25% para projetos com
realizadores que sejam de grupos sub-representados ou que tratem de temáticas
relacionadas às vivências desses grupos. Outra novidade é que, pela primeira
vez, o edital foi elaborado em parceria com o Ministério da Cultura (MinC).
“Vamos acrescentar ainda mais coisas, porque ainda
tem algo de orçamento livre, que são para entidades e iniciativas que a gente
tradicionalmente apoiava e deve voltar apoiar. A gente, aos poucos, vai
recuperando os níveis históricos que a Petrobras tem aplicado no setor”,
afirmou Prates.
O programa Petrobras Cultural já apoiou mais de 4
mil projetos culturais desde seu início, em 2003. Durante o Governo Bolsonaro
(2019-2022), o ex-presidente chegou a tecer críticas ao incentivo da estatal à
cultura e praticamente encerrou o programa. Em 2020, foram investidos R$ 18
milhões. Já em 2021, apenas R$ 10 milhões foram destinados a projetos
artísticos. Em 2022, foram R$ 22 milhões. Agora, os R$ 250 milhões
anunciados se unem aos R$ 150 milhões que já estão sendo executados pela
companhia.
NORDESTE: DESCENTRALIZAÇÃO DO PROGRAMA DÁ FÔLEGO A
ARTISTAS E RENOVA AUDIÊNCIA
Um dos apresentadores da cerimônia de lançamento, o
ator, diretor e dramaturgo Silvero Pereira aproveitou a ocasião para
destacar que o programa da Petrobras foi um dos responsáveis por diversos
projetos centrais em sua carreira, como a turnê nacional do espetáculo BR-Trans,
o filme Bacurau (2019) e o Festival de Cinema de Vitória, do qual é
apresentador.
Para Silvero, com a reformulação que visa atingir
todos os estados brasileiros e coloca o Nordeste como prioridade, o programa
possibilita que os artistas cearenses possam produzir sua arte onde moram, sem
ter que ir em busca do sonho de viver de cultura no eixo Rio-São Paulo.
“Eu sou de uma geração que briga por esse lugar de
que a gente não precisa sair da nossa região. Essa iniciativa de garantir pelo
menos 15% do orçamento faz com que produtores locais continuem acreditando no
seu trabalho no seu lugar”, explica. “E, além de produzir os seus projetos,
também façam com que mais empregos sejam gerados e mais pessoas possam também
acreditar de viver de arte e cultura no seu próprio lugar”.
O artista, que também é colunista
do Verso, conta que, por meio do incentivo federal, espera que o Ceará
consiga começar a sanar algumas dívidas históricas que têm com artistas da
terra.
“A gente teve uma queda imensa da produção teatral
nos últimos anos. Nós temos uma música extremamente potente, que vai desde a
Capital até
o Cariri, e isso precisa ser valorizado. E também temos as festas
populares, que é um outro segmento que está dentro desse edital que é de
extrema importância, porque a gente não pode deixar de perder esse movimento
cultural que existe”, conclui.
A
atriz, jornalista e roteirista pernambucana Ademara
Barros, que também esteve presente no lançamento do edital, também defende
a possibilidade de artistas de regiões como o Nordeste não precisarem fazer o
mesmo movimento que ela teve que fazer – ir para o Rio em busca de mais
oportunidades no cinema e no teatro.
"O
Nordeste é uma grande potência de produção cultural do Brasil inteiro, uma
referência para todo o Brasil", ressalta. "Mas a gente sabe que até
hoje, muitas vezes, pra gente conseguir ter esse contato, conseguir perpassar
pelo meio do entretenimento e tudo mais, a gente tem que se deslocar demais e
vir para cá. São editais como esse que acabam descentralizando isso de uma
forma mais democrática", completa.
Para
a artista, tão ou mais importante que ser visto em outros estados e regiões é
poder promover sua arte onde se está, para "fazer uma nova audiência e
também voltar a gerar interesse na nossa própria audiência". Ademara ainda
pontua que essa é uma grande chance de outras regiões conhecerem a multiculturalidade dos
estados nordestinos, deixando de lado a ideia de que os nove estados se resumem
a um só modo de fazer cultura.
"É
uma oportunidade de a gente pluralizar a forma de fazer cultura de cada um,
mostrar as potências plurais que cada estado tem. Até porque todo mundo precisa
trabalhar e a gente precisa continuar gostando de ser artista, e para isso a
gente precisa de dinheiro, como qualquer outra profissão”.
METAVERSO
E IA: PETROBRAS APOSTA EM “NOVA FORMA DE PENSAR CULTURA”
Fato
curioso sobre o edital é que uma das linguagens mais tradicionais em termos de
incentivo cultural pelo programa, o cinema, divide espaço em um dos eixos
temáticos com a nova – e ampla – definição “cultura digital”.
Durante
coletiva, Prates apontou que a escolha foi feita porque o cinema já caminha
junto ao às novas tecnologias, e que, entre outros produtos, games também
poderão ser contemplados no eixo temático.
O
gerente de patrimônio cultural da estatal, Milton Bittencourt, explicou que
projetos para o metaverso e/ou feitos com auxílio de inteligência
artificial também poderão ser contemplados, mas ainda não há definição de
como será feita a análise neste último caso.
“Estamos
aguardando projetos. Lógico que para a gente também é um território a ser
desbravado, essas novas formas de vivenciar a cultura através do mundo
digital”, pondera. “Mas é uma realidade e precisa ser compreendida – sempre no
sentido de valorizar as pessoas que estão envolvidas com o desenvolvimento e a
produção dessa arte”, completa.
Na
categoria, são esperados ainda projetos para streaming, webséries,
videomapping, entre outros. “Mas esperamos ser surpreendidos também, né? Já que
é uma área tão nova, que tá sempre se renovando. Estamos com o coração aberto
para as novas tecnologias na cultura”, conclui.
INVESTIMENTO
EM CULTURA É CONTRAPARTIDA PARA O POVO
No
lançamento do edital, a ministra Margareth Menezes reforçou o caráter
nacional do programa, que deve chegar “em todos os lugares”, e que a gestão
atual “acredita muito na força da economia da Cultura”. A gestora lembrou que,
para além do Petrobras Cultural, a Pasta acompanha a execução da Lei Paulo
Gustavo e da Lei Aldir Blanc, além da continuação do Plano Nacional de Cultura
Aldir Blanc.
“Também
estamos buscando diálogo com outras empresas da sociedade civil para que elas
se conscientizem desse valor, que existe um retorno no aporte à cultura. Para
além da questão do emprego, ela também fortalece a nossa identidade
nacional. A diversidade cultural brasileira nos liberta”, pontuou.
A
cerimônia de lançamento foi encerrada com um discurso de cerca de 20 minutos do
presidente Lula. Entre as declarações feitas, o petista fez menção ao desmonte
do setor cultural ocorrido durante a gestão Bolsonaro e afirmou que o retorno
do programa Petrobras Cultural é uma chance de a estatal voltar a ocupar lugar
de destaque junto ao setor criativo, e afastar projetos e leis de incentivo à
cultura de conexões inverídicas a processos de corrupção.
“A
contrapartida que uma empresa do tamanho da Petrobras tem que dar a um povo que
tanto fez para que ela fosse criada é investir em coisas que interessam ao
povo. E cultura pode não interessar a um ditador, cultura pode não interessar a
um negacionista, mas cultura, simplesmente, interessa ao povo tanto quanto
interessa um prato de comida”, afirmou.
Na
ocasião, Lula ainda citou a presença do “triunvirato financeiro do Governo” –
BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica, cujos presidentes estavam na plateia
– e destacou que “a cultura também precisa de crédito, porque gera emprego e
distribuição de renda”.
SELEÇÃO
PETROBRAS CULTURAL 2024: COMO PARTICIPAR?
A
chamada pública contempla quatro eixos temáticos: Ícones da Cultura
Brasileira, direcionado a iniciativas de grande porte, como espaços e coletivos
artísticos; Cinema e Cultura Digital, que visa retomar a parceria
histórica da Petrobras com realizadores audiovisuais do Brasil e inclui ainda
games, webséries e outros produtos virtuais, como criações para o metaverso; Produção
e Circulação, focada na difusão de música, dança, teatro e artes visuais;
e Festivais e Festas Populares, que visa impulsionar novos eventos ligados
às artes cênicas e salvaguardar manifestações tradicionais.
As
inscrições já estão abertas, são gratuitas e podem ser feitas no próprio site
da Petrobras, clicando
neste link. A seleção dos projetos será feita por pareceristas internos e
externos em cinco etapas: triagem, análise de conteúdo, aderência,
pontuações adicionais e definição dos selecionados.
Podem
se inscrever pessoas jurídicas com CNPJ válido, de natureza cultural com ou sem
fins lucrativos, de direito privado, sob controle de brasileiros natos,
naturalizados ou de estrangeiros residentes no Brasil há mais de três anos. Não
são aceitas inscrições de pessoa física, MEI (microempresa individual), ou EI
(empresa individual).
Fonte:
Diário do Nordeste
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