Um fóssil raro de
dinossauro da espécie Santanaraptor Placidus, encontrado em Santana do Cariri,
no Ceará, e outro de crocodilo, descoberto na Bacia do Araripe, estão entre os
materiais do Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri (Urca) que
estavam emprestados ao Museu Nacional, e podem ter sido destruídos pelo fogo
que tomou o antigo palácio da família real, neste domingo (2).
Um incêndio de grandes proporções destruiu o Museu Nacional, na Quinta
da Boa Vista, em São Cristóvão, Zona Norte do Rio. O fogo
começou por volta das 19h30 deste domingo (2) e foi controlado no fim da
madrugada desta segunda-feira (3). Mas pequenos focos de fogo
seguiam queimando partes das instalações da instituição que completou 200 anos
em 2018 e já foi residência de um rei e dois imperadores.
De acordo com o paleontólogo e professor da Urca, Álamo Feitosa,
dezenas de materiais que pertenciam ao Museu de Paleontologia estavam
emprestados ao Museu Nacional, para contribuir em pesquisas de mestrado,
doutorado e pós. Além dos fósseis, peças de aranhas, escorpiões e plantas.
Alguns eram descobertas em fase final de estudos, ainda sem publicação científica.
“É comum a gente ceder material pros alunos, é uma cooperação. O
empréstimo ocorre dentro de instituições parceiras, o Museu Nacional era meio
nosso irmão mais velho, era uma relação muito boa de trabalho, de pesquisa”,
explica o professor.
O material estava no Rio de Janeiro há mais ou menos um ano, com
exceção do Santanaraptor Placidus, mas já estava retornando para que os
trabalhos fossem enviados para publicação, segundo Feitosa.
Pesquisador da Urca, Y. Félix afirma que a espécie de dinossauro encontrada
aqui é uma das descobertas mais importantes do país. "Foram encontrados
tecidos moles fossilizados, músculos preservados. Talvez seja um dos mais bem
preservados do mundo", reforça.
O nome Santanaraptor Placidus foi dado em homenagem ao nome da cidade
onde o fóssil foi descoberto, à atividade predatória do animal (um raptor, ou
caçador) e ao professor Plácido Cidade Nuvens, ex-reitor da Urca.
Assim como tantos
estudantes e pesquisadores que estiveram na frente do museu desde a noite do
domingo, o paleontólogo se diz “atordoado” com o acontecido. “A gente ainda tá
tão atordoado, o prejuízo é muito grande, tô muito abalado com isso. Eu via o
esforço daquele pessoal, tive lá em abril, sempre tem gente de lá aqui e gente
daqui lá”, comenta.
Ele conta ainda
que recebeu relatos de que os estudantes
perderam não só os objetos de pesquisa, mas a própria produção textual
científica que estava em seus computadores, queimados no
incêndio.
“Primeiro nós perdemos peças que não têm mais substitutas. Depois, as
pessoas que estavam trabalhando, alunos que tavam se formando em mestrado, em doutorado
deixam os computadores nas salas de alunos, nos armários. Olha a situação desse
povo! Dezenas e dezenas não têm mais as informações nos computadores nem tem
como refazer a pesquisa. Gente de todo o mundo. Estão muito abalados”, relata o
professor.
Para o paleontólogo, o caso não foi uma tragédia, mas um crime. “Me
perguntam se esse incêndio foi criminoso, eu digo sim. Foi criminoso! Os nossos
governantes deveriam ser criminalizados.”
E relembra que a falta de investimento no museu é também dinheiro
perdido pelo estado. “O Brasil, no auge do turismo da Copa de 2014, recebeu 6
milhões de visitantes. Isso é o que recebe o Museu de História Natural de
Londres. Investir em cultura e em ciência dá dinheiro. Tínhamos peças que só
nós tínhamos, e agora não temos mais, tínhamos o que mostrar e não
aproveitamos. Perdemos por pura negligência e irresponsabilidade”, lamenta.
A maior parte do acervo do Museu Nacional, de cerca de 20 milhões de itens, foi totalmente destruída. Fósseis, múmias, registros históricos e obras de arte viraram cinzas. Pedaços de documentos queimados foram parar em vários bairros da cidade.
Fonte: G1
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