projeto do Ministério do Trabalho vai permitir que
quem aderiu ao modelo e tenha sido demitido após sua criação em 2020 possa
resgatar o saldo remanescente no Fundo
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, encaminhou à Casa Civil um projeto que autoriza trabalhadores demitidos a
partir de 2020, e que aderiram ao chamado saque-aniversário, a retirarem o
saldo remanescente da conta do FGTS. Ou seja, de forma retroativa, já que o saque da totalidade
dos recursos, é proibido por dois anos pelas regras que criaram essa modalidade
de retirad O impacto da medida para o FGTS
seria de R$ 14 bilhões. Esse é o potencial de recursos que poderiam ser
injetados na economia, conforme estimativas da Caixa
Econômica Federal repassadas ao governo.
Há duas modalidades de saque do
FGTS. A original se chama saque-rescisão, que permite a retirada completa do
saldo por trabalhadores com carteira assinada demitidos. No governo de Jair
Bolsonaro, em 2019, foi criado o saque-aniversário, que permite
a retirada de uma pequena parte do saldo, em um determinado mês do ano, mas com
o bloqueio por dois anos do saque total, em caso de demissão.
Ou seja, ao aderir ao
saque-aniversário ele fica proibido de aderir ao saque-rescisão. Em caso de
demissão sem justa causa nesse período, o trabalhador recebe apenas a multa de
40% sobre o saldo do FGTS. Há ainda uma modalidade de
empréstimo, chamada de “antecipação do saque-aniversário”, quando bancos
emprestam recursos e recebem diretamente as parcelas do Fundo do trabalhador.
Sem retorno ao saque-aniversário
Segundo técnicos a par das discussões,
a proposta do Ministério do Trabalho prevê que o trabalhador que aderiu ao
saque-aniversário e agora resgate os recursos totais não possa voltar para esta
modalidade. Como a previsão de resgate é retroativa, qualquer um que aderiu a
esse sistema e que tenha sido demitido após 2020 poderia resgatar os recursos
remanescentes na conta.
Na época em
que o saque-aniversário foi criado, a carência de 24 meses foi uma espécie de
trava fixada para evitar um volume grande de retirada de recursos do FGTS que
viesse a comprometer o fluxo de caixa do Fundo.
Contudo, Marinho tem dito a
interlocutores que recebe, nas redes sociais, muitos pedidos de trabalhadores
que foram dispensados e querem sacar o restante do saldo da conta, mas não
conseguem.
Na visão de Marinho, a medida resgata um direito
do trabalhador, alinhado a um dos objetivos do FGTS, de oferecer amparo nas
demissões. O Fundo foi criado como contrapartida ao fim da estabilide Corte por renda ou data
Desde a criação do saque-aniversário,
32,7 milhões de trabalhadores fizeram a opção pela modalidade e retiraram das
contas R$ 43,4 bilhões. Do total de cotistas optantes, 16,9 milhões de
trabalhadores anteciparam o saque-aniversário com os bancos e tomaram em
crédito R$ 111,4 bilhões.
·
Otimismo: Confiança do consumidor brasileiro atinge maior patamar em nove
anos
Esses valores ficam bloqueados nas
contas vinculadas para, no mês de aniversário do trabalhador, serem repassados
aos bancos credores. Por isso, quem fez esses empréstimos e quiser resgatar o
FGTS só poderá sacar a diferença entre o total em prestações e o saldo no
Fundo.
Assim que tomou posse em janeiro, uma das primeiras iniciativas de Marinho foi tentar acabar com o
saque-aniversário. Mas a medida não encontrou apoio no
Ministério da Fazenda, pois essa modalidade é uma forma de estimular a
economia. Também não teria respaldo do Congresso nem de integrantes de centrais
sindicais
Segundo
técnicos envolvidos nas discussões, contudo, a proposta atual do Trabalho tem
apoio do restante do governo e está na fase de ajustes. A ideia de enviar um
projeto de lei, e não uma medida provisória, seria a melhor solução política.
O plano do Executivo, segundo esses
interlocutores, é enviar um texto mais genérico, deixando nas mãos do Congresso
eventuais alterações, como um corte por renda, por exemplo, ou de data. Segundo
a Caixa, 85% dos cotistas do FGTS têm nas contas saldo de até quatro salários
mínimos. Um corte desse tipo poderia beneficiar trabalhadores de baixa renda e
ter menor impacto nas contas do Fundo.
O relator da
proposta que criou o saque-aniversário, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB),
lembrou que um dos objetivos da carência era manter o dinheiro na conta para
preservar as contas do FGTS. Para ele, a proposta de Marinho representa uma
mudança de entendimento, pois o plano inicial do ministro era acabar com o
saque-aniversário.
Segundo o parlamentar, a medida é
positiva e pode ajudar a aquecer a economia, conforme já foi feito por governos
anteriores.
— Vejo com bons olhos e acredito
que não haverá resistências no Congresso — destacou Motta.
O economista-chefe do Banco Genial,
José Márcio Camargo, um dos idealizadores do saque-aniversário na gestão do
ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, também apoia a medida:
— O FGTS é um dinheiro do trabalhador
que o governo usa para fazer política habitacional e ajudar construtoras.
Quanto mais liberar o FGTS, melhor — endossou Camargo.
Construção teme proposta
Já o setor da construção civil vê a
proposta com preocupação, alegando que o impacto nas contas do FGTS deve
superar a projeção oficial de R$ 14 bilhões. O receio é que a medida possa
afetar o fluxo do Fundo, além de reduzir o resultado e afetar orçamentos
futuros para programas como o Minha Casa, Minha Vida.
— É preciso entender que o FGTS tem dupla função,
proteger o trabalhador no momento da demissão e, enquanto o dinheiro está na
conta, ser fonte de financiamento de habitação para a baixa renda e projetos de
saneamento básico — disse o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da
Construção Civil (Cbic), Renato Correia. O que está em jogo
·
32,7 milhões de trabalhadores aderiram
ao saque-aniversário, modalidade criada em 2020 e que
permitiu antecipar retiradas, inclusive na forma de empréstimo bancário.
·
R$ 43,4 bilhões foi o valor resgatado
pelos trabalhadores desde que o saque-aniversário foi criado. Neste ano, o ministro do Trabalho já havia tentado acabar com o modelo.
·
16,9 milhões de trabalhadores, entre todos que aderiram ao saque-aniversário, optaram por antecipar retiradas por meio de empréstimo bancário
·
R$ 111,4 bilhões foi o volume de
operações de antecipação de recursos do
FGTS por meio de operações de empréstimos bancários com base no saque-aniversário
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário